O Começo Que Ninguém Viu
Vou ser sincero com você: eu nunca imaginei que ia trabalhar com logística. Sinceramente, não sei se o que vou falar é o que está procurando, mas a minha intenção é te inspirar e te dar uma direção caso tenha dúvidas e se pergunte “O que eu vou fazer agora?”.
Vou direto ao ponto, o fundo do poço…
Aliás, naquela época, eu nem sabia direito o que era isso. Eu era da indústria química, e depois do comércio varejista sem muita expectativa. Não entendia nada de computador, nem pretendia trabalhar com nada relacionado, eu queria mesmo era ser Biólogo e estava no 1 ano de licenciatura. A idéia era ser professor. Mas… Vieram sombras, densas, que eu cheguei a tocar, pareciam vivas, e aconteceu pouco depois que meu pai partiu pro céu, pra ficar junto da minha mãe, e isto depois de ele resistir a dor da saudade, repetindo diariamente para eu me lembrar, da minha mãe,e nunca esquecer dela, por longos 3 anos. Quem já passou por isto sabe que quando perdemos os pais e eles são os melhores amigos, a tendência é ir junto, sem querer, sabe!
Os anos passam devagar nesta situação, eu levei 1 ano e meio, caindo livre, verticalmente para lugar nenhum, sem condições de me segurar. Mas quando as pessoas perguntavam eu sempre falava: “Estou bem!”.
A vida ficou tão sinistra, que eu quase fui junto, mas vou pular esta parte, é algo que não vou compartilhar mais do que até aqui, pois foi o suficiente, pra mostrar que todo mundo uma hora poderá passar pelo menos e é o que há de mais fundo que alguém poderá chegar. Tem pessoas que não vão passar por isto tão cedo, e ai falo, lógicamente, em primeiro lugar, “Aproveite todo momento com seus melhores amigos, e considere que o tempo com eles nunca vai ser suficiente, não haverá tempo para discutir, e tentar ser o certo ou falar que alguém é errado, não bata no peito, só fique perto”.
Ah,… Você sabe né como é a vida é dura, mas se eu estou aqui escrevendo isto, é por que eu reagi e você pode também com ajuda de algumas pessoas, amigos, cheguei a conclusão que além de passar mais tempo com as pessoas que eu amo, também eu só precisava trabalhar, me ocupar com estudos, e não importava com o quê. Isto por que o dinheiro era curto, os bicos eram mal pagos, contas chegando, e aquele sentimento de que, se eu não me mexesse, nada ia acontecer, meu destino era ser um morador de rua. Então, eu peguei o que apareceu.
Primeiro emprego? Não, claro que não! Eu estava com cerca de 6 anos na indústria e 5 anos em comércio de varejo, em CLT mas parecia o primeiro emprego, pois eu estava atordoado e não pensava no passado eu pensava o que eu precisava fazer agora. O hoje era a única coisa que eu tinha controle total. “E agora? o que faço!” Não saia da cabeça isto. Comecei de uma forma que a maioria começa na logística. Quase que do Zero! Vamos dizer que entre 0 e 0.4, em conhecimento e experiência, mas ainda não era nem um 0.5 em qualquer direção possível. É verdade que “Eu cai e fui ao fundo!… mas é quando chega ao fundo que fica mais fácil de sair do fundo do poço, pois você entra no estado de repouso e torpor, e basta se mecher um pouco e você vai começar a escalar naturalmente e sair da inércia“.
Aqui, é onde eu vi a luz e de dentro daquele poço eu olhei pro alto e havia o sol do meio dia, brilhante e quente,…
Agora, eu era ajudante estoquista no centro de distribuição de uns 23 mil metros quadrados, e 15 mil posições de porta paletes separados em 3 blocos, em uma empresa pequena e nacional na área de varejo no nicho de móveis, artigos de decoração e presentes, e jóias. Este centro de distribuição era responsável em abastecer umas 25 lojas. Meu salário era R$ 960 por mês, com benefícios de transporte, e refeitorio com alimentação no local com café e almoço e janta. Meu trabalho era basicamente estar carregando móveis de um ponto ao outro, das posições palete até a área de distribuição por estado da expedição. Este era o trabalho mais duro e sem um carrinho hidráulico. Nada glamouroso, mas era o que tinha. Passava o dia carregando caixas de 10kg a 85kg, com um parceiro, organizando por tamanho as caixas dos móveis do mais pesado, em formato como um lego grande e pesado, e por incrível que parece era a parte mais difícil que enfrentei em um trabalho na vida: “Fazer lego com caixas de móveis, até virar um tetris em alguns momentos”.
Fiquei oito meses, e muitos que entraram comigo desistiram, doentes e cansados mas então, precisaram de mim nos blocos, e eu comecei aprendendo a forma da empresa, de trabalhar, e fui ajudante de um ajudante, acredita nisto? Armazenando, ressuprindo, separando e carregando caminhão. Era cansativo? Pra caramba. Se você já passou por isto vai entender, mas para quem não sabe exatamente é como fazer um treino de perna com dead lift, supino, e agachamento com 200kg 8 horas por dia, batendo o RP, e sem suplementação e esteróides para se recuperar mais rápido. A vantagem era “Eu não precisava de academia, e comia na bandeja sem prato e não engordava”.
Mas, no meio da rotina puxada, comecei a enxergar coisas que ninguém prestava atenção, baseado em matemática básica de início, e padrões dos números naturais, que eram mais frequentes. Ainda bem que eu fui bom aluno no ensino médio, e era bom aluno na universidade também até onde fui.
Por exemplo, ao final da separação ficavam espaços nos porta paletes e comecei a olhar quantos por cento faltava para ocupar 100% e isto eu nem sabia do que se tratava, eu contava palmos de profundidade, largura e altura, de espaço vazio em relação ao espaço ocupado do porta palete. Mesmo a medida não sendo apropriada eu sabia quantos centímetros tinha meu palmo. Como não tinha como carregar uma trena e ficar parando eu entre caixa e outra media rápido e ia calculando de cabeça entre uma tarefa e outra. Isto me ajudou muito no futuro, mas neste momento ainda não era útil, era somente curiosidade, daquele padrão. O jeito como a mercadoria chegava, como era organizada, como saía. O comportamento dos operadores de empilhadeira ao executar uma ordem de serviço, o tempo para subir e baixar a torre da empilhadeira, quanto tempo de uma rua até outra, quanto tempo da rua mais distante até ao stage da expedição, quantidade de caixas que eram suportadas pelas empilhadeiras, a mantenção preventiva das empilhadeiras. A quantidade de caixas suportadas em um porta palete em relação ao peso, Tempo para fazer uma separação e depois multiplicava por 100 para saber quanto tempo iria levar para realizar a tarefa completa e ver um possível atraso na entrega da ordem de serviço, incluindo o tempo gasto com problemas que sempre ocorriam e que eu já sabia mais ou menos o tempo médio de hora parada e que me prejudicaria na produtividade.
Eu já conseguia prever algumas coisas. Eram exatamente coisas que eu achava curioso, com histórico eu tinha a tranquilidade de dizer “Se eu fizer isto aqui, vou prevenir tal coisa e ai termino mais rápido e vou ficar menos cansado”, baseado no que estudei em biologia. Pode ser que tu se perguntou agora: “mas o que tem haver a biologia com a logística?”. A resposta é “Estatística”.
Tinha algo ali que podia ser melhorado, sabe? Eu estava todo tempo fazendo analogias na minha cabeça com o corpo humano aquele centro de distribuição que eu estava trabalhando. E foi aí que acendeu aquela luz:
“Na logística o tempo é uma moeda fundamental. Em uma analogia, posso usar como nos seres vivos, fazem a logística, usando a ATP e ADP como moedas fundamentais orgânicas, que definem a capacidade metabólica, gerando energia, para a execução de trabalho mecânico, e logístico das funções de qualquer organismo no planeta, no menor tempo possível para gastar menos energia possível. Isto que não se pode negligênciar, ou seja, faça tudo de forma que ganhe tempo para qualquer coisa no negócio de logística, como a natureza faz, como uma lei, mas sempre com menor gasto de energia possível nos processos. Tudo que entra no ramo de negócios insdustriais, comerciais, e logísticos, deve ser processado, movimentado, modificado, armazenado, ressuprido, separado, inventáriado, e expedido e monitorado sempre em topo ponto mencionado aqui, e não pode parar ou no diagnóstico surge uma patologia que vai atrapalhar a produtividade, eficiência e desempenho diretamente de toda cadeia de suprimentos.”
Sugiro levar isto pra você pra sempre, pois funciona para muitas outras coisas pois a logística está em tudo que há.
O Primeiro Passo Além da Rotina
Depois de um tempo, onde eu estava, algumas coisas, começaram a incomodar. Eu olhava pros processos e pensava: “Por que ninguém faz isso de outro jeito?”. Eu comecei a pensar em projetos para monitoramento de dados, havia o WMS, mas monitorar era muito ruim, e lento, e a quantidade de tarefas eram muito grande com o crescimento da demanda devido a inauguração de mais lojas. Mas, vamos ser honestos, quem era eu pra sugerir alguma coisa? Eu era só mais um funcionário qualquer.
Mas quer saber?
Eu comecei a agir baseado em necessidades para melhorar meu setor, olhando os padrões de limpeza, de organização, para evitar “Acidentes” em sites, quando eu ia dormir a noite, comecei a dormir somente 4 horas por noite, pesquisando e estudando, comprando cursos, e lendo livros onde explicavam sobre os 6 sigmas e padrões de qualidade, e todos indicavam como fazer baseado em empresas multinacionais da indústria automotiva. Isto era o principal pois iria ajudar muito a preservar os móveis, e reduziria meu trabalho e eu teria certeza que não iria me machucar tanto, pois sempre eu me via a noite com uma agulha tirando farmas, e fazendo curativos nas mãos pelos cortes em peças metálicas, na triagem de móveis avariados do setor que eu estava. Ninguém queria fazer aquele trabalho então estava acumulado, quando peguei cerca de 2 meses de restos de móveis empilhados. Então após isto, inventariei, e comecei a ver que parte de alguns móveis de mesmo SKU, estavam compativeis e podiam ser recuperados desde que eu montasse eles no sistema, para que se tornassem prontos para expedir. Anotei, calculei, fiz planilhas de montagem sistêmica, de cada peça, triada, das que eram recuperáveis, e das que eram descartes. Olhei os números da minha cabeça, sabe como? Escrevi eles, na hora do almoço, e como eu calculava eles, a matemática básica, estatística muito básica, focada em volumes e razão por contagem e divisão das contagens. Era carregar móveis e contar e ter isto guardado em mente, e anotar na hora do almoço enquanto comia algo. Eu comecei a mudar o que estava ao meu alcance, eu queria que onde eu trabalhasse fosse um local para eu me sentir bem, e que eu tivesse controle. Simples assim “Eu foquei em mim!”. Eu não queria me machucar mais. E Zerei o chão de stage de avarias. Absolutamente apresentei uma recuperação de 700 mil reais em móveis que não tinham como recuperar mais segundo todos falavam. Organizei melhor o estoque recuperado, e depois que fui designado para cuidar de um bloco inteiro sozinho ainda como auxiliar estoquista, utilizando as regras normativas de padrão de qualidade, definidas em instruções de trabalho, e nos livros que li sobre ISO 9000 que eram equivalentes, e foi muito importante isto, pois eu demonstrava respeito a política e engenharia da empresa que estudou científicamente e determinou como deve ser, sem deixar de lado as normas internacionais de qualidade eu somente “SEGUI a risca a ideia”.
Depois de alguns meses, entrei em um curso online na fundação Bradesco, gratuíto, e estudei muito o excel, e depois todo pacote office, para me atualizar, tinha muita coisa nova em excel, e que algo poderia me ajduar, de forma que as vezes nem dormia direito interessado em como deixar as tabelas mais automatizadas, pois eu pensava, mesmo sem saber exatamente ainda como fazer, em encontrar um meio de integrar o WMS com a planilha e gerar relatórios resumidos sem eu precisar ficar consultando no sistema todo momento as ordems de serviço emitidas, emissão de etiquetas, avarias que deram entrada no endereço virtual de controle, o tempo, a ocupação, e a segmentação do estoque. Eu perdia umas duas horas por dia consultando no sistema, pois eu parava a cada onda de separação concluída, que era mais ou menos em ciclos de 25 a 38 minutos. Quando tinha autorização para sentar a mesa administrativa que era no horário do café, almoço, e final de expediente, e alguns momentos quando o assistente pedia para eu ajudar ele, aprendia com ele e compartilhava o que aprendi sobre os móveis, avarias, e estoque, e aproveitei e criei umas planilhas novas simples e deixava na tela pra controlar entrada e saída e principalmente me acionar visualmente e condicionalmente com cores vivas, em um ranking quando eu precisava fazer a puxada de paletes para armazenamento e suprimento, ou separação, para expedir e tratativas de avarias. E o problema do tempo foi resolvido. Eu tinha mais duas horas por dia. Eu olhava na tela executava e o sistema dava baixa e a planilha calculava e indicava que estava concluído e ainda alimentava a base de dados do assistente para ele também ter os dados em tempo real, e enviar a diretoria e o setor de PCP. Mutuamente compartilhamos em parceria muita informação e diminuimos nossa carga de trabalho, e aumentamos a produtividade, ele em entregar os insigths e eu em ver o que precisava executar no meu bloco. Com o tempo eu podia ver até o que estava pendente na minha onda de separação e quais ruas, e assim eu terminava o trabalho muito mais rápido para continuar criando relatórios de visualização até chegar a paineis de controle automatizados quase que 100%. O encarregado me incentivava muito. Coisa básica, mas que já evitava erros que antes eram dados como comuns pela liderança eu chamava “Se um erro de processo é comum, então é absurdamente ruim”. Eu falava isto sempre e me apelidaram de “Doidão”. Eles achavam que erros que se repetiam eram do processo e não podiam ser resolvidos, devido a frequência que ocorriam.
Ninguém mandou, ninguém pediu. Eu só fiz.
Por que isto estava me ajudando a não pensar no passado a não me machucar fisicamente, e estava começando a poupar meus colegas e todos estavam ganhando tempo de alguma maneira, e trabalhando mais tranquilos e produzindo mais. E adivinha? Começaram a notar! De “Doidão”, para “Cabeção”. Foi um progresso grande! Era “Cabeção” de “Tem algo grande ai dentro deste crânio, heim?“. Eu me divertia com os apelidos! Nunca me irritei! Era realmente divertido, mudar a opinião deles e receber instrução gratuita depois de compartilhar o que eu era capaz de fazer e isto nos inspirava. Deixamos de ser colegas e nos tornamos amigos até hoje, toda aquela operação, se fala, “ATÉ OS DIAS DE HOJE”. Muitos desse nosso time vitalício, me deram incentivo e muitos incentivei.
Ao mesmo tempo que eu observava e corria muito para resolver minhas pendências minha produtividade era indicada na tela, e era possível com dois cliques verificar a de qualquer colaborador, e das máquinas, no setor de estoque. E todo mundo estava vendo, lógico ensinei como consultar mais rápido, inclusive meu encarregado e gestor direto, estava acompanhando sem eles saber que eu fiz.
Um dia o Assistente pediu as contas.
O encarregado veio e falou assim: “Sabe fazer procv?”. Eu estava preparado e disse: “procv, cont.se, cont.ses, somase, somases, se, e, ou, sei aninhar tudo para obter resultados mais apurados, e sei fazer relatórios condicionais, sei usar power BI, Power Query, fazer conexões de integrações”. Então ele falou “Então, tu quem fez o painel?” e eu disse, “Sim, o que achou?”, ele disse, “Ficou bom aquele painel! Me ajudou muito.”.
Não foi de uma hora pra outra, isto é proatividade, ela vem da autogestão, da necessidade, da experiência. Então o meu jeito de pensar chamou atenção. O Gerente veio falar comigo, elogiou, mas pediu para eu focar no meu trabalho por causa do meu escopo, e que eu tivesse paciência, e que podia continuar fazendo como estava fazendo. Na cabeça da maioria que ficou sabendo disto em poucos minutos pois um ou outro acabou testemunhando, ocorreu indignação, e falaram “Nós vimos tu fazendo trabalho de assistente, se esforçando, dedicado e se machucando, correndo, suando frio, ajudando geral, melhorando nosso trabalho, e nem te promoveram ainda! Você está sendo usado, custa muito barato, pelo tanto que faz, e nunca vão te promover! Aqui não dão oportunidade pra ninguém! Isto aqui não é para você não, irmão!”, eu disse “Eu estou onde eu deveria estar, e o que parece pouco, pra muitos aqui, na verdade é um mundão para mim! Eu estou tão bem que tu nem imagina!”.
Passaram umas semanas!
Eu continuei do mesmo jeito. Eu tava satisfeito com meu salário, e eu tinha tempo, mas muito tempo, eu ficava agora quase que 3 horas com tempo para criar mais e resolver mais problemas e o objetivo tentar aproximar do zero as pendências de armazenagem, ressuprimento, e separação.
E dia começou daquele jeito…
Ocorreu uma visita da diretoria regional e com o dono do negócio todo, feita de surpresa, simplesmente, pararam e viram o bloco inteiro bem organizado, aquilo era novidade pra eles, pois da última vez eles apontaram diversas anomalias, graves, e prometeram que na próxima visita se isto continuasse que o “FACÃO” iria ocorre. Até os extintores foram posicionados no lugar correto, determinado pela marcação indicada por uma pintura estratégica do corpo de bombeiros, e não era comum nem no setor de Programação e controle de produção que era o exemplo haver um painel de controle de produção, eles usavam gráficos, impressos ainda colados em um quadro de avisos a cada 2 horas. Este painel, era minha assinatura, meu filho, só havia nos monitores sobre a mesa daquele bloco que eu era responsável.
Então, eu ouvi o Diretor falar para os outros executivos:
“Isto é uma maravilha, não vi este Dashboard nos outros blocos! Quem foi que desenvolveu e integrou?”.
E eu disse, suado, e cansado, de tanto carregar móveis pois era véspera de Natal:
“Foi eu!”
E continuei aquilo que estava fazendo.
Foi aí que veio a oportunidade de ser assistente de logística, no mesmo dia.
E por incrível que parece, para muitos que ler isto, podem pensar “Nada demais!”, depois de tudo isto só conseguiu ser assistente? Não vale a pena! Entenda, que mim, aquilo foi surpreendente pois uma promoção, eu não esperava, eu achava que eu iria carregar tanta caixa de móveis na vida, que uma hora iria conserteza ficar doente! Era o pé no chão sem sonhos por muito tempo já, isto não era pessimismo eu só não estava focando naquilo! Então, uma coisa eu sempre fui decidido: “Eu iria fazer o melhor que eu pudesse para não ser mais um!”.
A Primeira Multinacional e os Primeiros Projetos
Surgiu uma outra oportunidade novamente, em 2015, e era para Analista de logística pleno, pois o que eu fazia foi parar nos ouvidos de outras pessoas de outras empresas. Foi estranho entrar numa empresa grande. Sabe aquele sentimento de ser pequeno num mundo gigante? Era eu. Me falaram que era só fazer o de sempre. Mas… Tudo era mais complexo, mais rápido, mais exigente. Uma coisa é cuidar de um centro de distribuição, outra coisa é ser operador logístico e prestar serviço de análise de BI, para uma centena de clientes. Eu me sentia perdido no começo. Mas, olha, eu tinha aprendido uma coisa lá atrás: observar. Então, viajei e observei todas operações e principalmente “OS PADRÕES”. Antes de querer mudar alguma coisa, eu observei e calado, quando me perguntavam algo, eu falava “Ainda não sei, estou entendendo o processo, aguarde!”, este é o segredo, pois era a mais pura verdade. Meu pai falava “Não prometa se não consegue entender o que estão te pedindo”, e minha mãe falava “Você precisa focar em descobrir as coisas para ter certeza do que se trata e então pode falar convicto”. E meu professor de bioestatística falavam que “A estatística é a ciência investigativa, que usa matemática para falar a verdade sobre os padrões, nos diversos fenômenos de produção naturais ou artificiais, controlados ou não pelo homem”. Vi como as coisas funcionavam, entendi os fluxos, os gargalos, anotei tudo! Sim, eu carregava um fichario universitário, e realmente estudei como se estivesse na universidade, e humildemente meus professores da operação, em cada centro de distribuição que visitei, eram os auxiliares estoquistas e assistentes. E, de novo, comecei a ajustar o que eu podia. Entrei de cabeça em projetos de transferência de estoque entre centros de distribuição, organização fiscal, segurança do trabalho, manutenção de máquinas e predial preventiva e preditiva, análise de capacidade de estoque por indicadores de ocupação, e auditorias e inventários. Automatizei relatórios, desenvolvi Paineis, em cada operação integrados, mas com possibilidade de atualização manual também, utilizando power BI, power query e excel, e melhorei processos de armazenagem e ressuprimento, e comecei a entender a importância de tratar a desfragmentação de estoque e as prevenções de perdas. Até descobrir que havia uma diferença muito grande do passado desde a inauguração de algumas operações, até aquele momento entre o estoque da empresa que eu trabalhava e alguns clientes. E isto, foi o divisor de águas, pois indicou um erro grave nas tratativas de produtos estocados que foram transferidos entre CNPJ que eram semelhantes e de mesmo fornecedor, e também os que estava armazenados fora de linha consumindo os planos de seguro de estoque. Foi aí que comecei a ganhar espaço. Durante esse período, decidi investir na minha formação e me graduei em Engenharia de Produção. Depois, me aprofundei em Ciência de Dados para entender melhor como otimizar processos com tecnologia.
Desafios e Grandes Projetos
Trabalhar em multinacional não é fácil. Então, eu fui para outra maior ainda! A cobrança é alta, os prazos são curtos e a pressão é constante. Não vou dizer que era insano, pois não há palavras para dizer o que é, mas quem viveu a pressão vai entender. Mas eu novamente percebi que para otimizar meu tempo eu precisava me qualificar mais, e então comecei a graduação em tecnólogo em Ciências de Dados. Mas, sinceramente, era isso que me motivava. Foi nesse ritmo que mergulhei em projetos mais complexos de analise de dados: Volumetria e KPIs, insigths, e implementei soluções para recuperação de pacotes pendentes, trabalhei com WMS e E-commerce, e participei ativamente na criação de indicadores para melhorar a performance de estoque e principalmente algo novo “A previsão a partir dos padrões históricos no big data e machine learn com python”.
Cada problema era uma chance de aprender, e ensinar a máquina, e mostrar resultado. Quando me vi liderando projetos de melhoria do sistema, criação de módulos, percebi que já não era o mesmo cara que carregava caixas cerca de 8 anos atrás. Eu estava ali, lidando com prazos, metas e equipes. Não foi sorte, foi trabalho, “PESADO DEMAIS”. Cada erro me ensinou algo e lógico eu não repetia, pois incluia nas minhas automatizações. E cada acerto me levou mais longe. Até que começaram a dizer “Você que é o cara da Automação e previsão?”.
O Novo Centro de Distribuição e a Nova Jornada
Chegar ao cargo de analista sênior foi um processo, não um prêmio. Foi consequência de apropriar-se de mim e tomar conta de mim, e respeitar as pessoas e suas habilidades, e me comunicar acertivamente, sem achismos. E a maior prova disso foi quando me deram a responsabilidade de liderar o projeto de um centro de distribuição do zero. Imagine só: planejar toda a estrutura, desde layout, fluxo de mercadorias, até a escolha do WMS mais adequado e implementação de dados nele, até desenvolvimento de alguns modelos para funcionamento dos módulos de recebimento, sorting, inventário, expedição e monitoramento de entregas dos Service centers. Nada disso foi fácil, mas cada desafio foi uma oportunidade de aplicar tudo o que aprendi. Liderei o projeto desde a análise de viabilidade até a execução, cuidando de cada detalhe: auditorias, projeção de capacidade, prevenção de perdas, ressuprimento e otimização de espaço. Não parei por aí. Fiz pós-graduação em Engenharia de Software, Robótica e Inteligência Artificial, expandindo ainda mais minha visão sobre tecnologia aplicada à logística.
Hoje, 11 anos depois daquele primeiro emprego ganhando R$ 960, sou CEO de uma startup que presta serviços de manutenção de redes de IA e robôs logísticos no Brasil e em mais três países da América Latina. Olhando pra trás, vejo que cada passo, cada erro, cada acerto me trouxe até aqui. Não foi fácil, mas também não foi sorte. Foi decisão. Eu decidi não aceitar o básico. Decidi melhorar, agir, crescer, compartilhando sempre, sem esconder as descobertas.
E, agora, te pergunto: O que quer vai fazer?